domingo, 24 de março de 2013

Fama, de Daniel Kehlmann - minha mais recente paixão literária!

“Uma novela em nove histórias”

famaEu adoro descobrir novos nomes da literatura. Gosto de pegar dicas com amigos, ler indicações e resenhas em revistas literárias e, sempre que possível, leio livros de escritores completamente desconhecidos.
A verdade é que não costumo limitar minhas leituras a um gênero ou autor específico, claro que tenho meus escritores preferidos, mas sou também muito curiosa e aberta a novas leituras. Por conta dessa minha curiosidade, já conheci escritores sensacionais.
O escolhido da vez é Daniel Kehlmann, um escritor alemão muito talentoso que me conquistou desde o primeiro momento que entrei em contato com seus escritos. Talvez para muita gente Kehlmann não seja mais novidade nenhuma, mas pra mim, que nunca tinha escutado falar nada sobre ele, foi um achado surpreendente.
Conheci esse escritor fuçando informações em uma rede social sobre literatura, acabei chegando em seu livroFama (Ruhm, no original) e fiquei encantada com seu estilo de escrever.
Fama é composto de nove relatos. No primeiro, o leitor entra em contato com uma personagem que decide por primeira vez adquirir um telefone celular; assim que começa a utilizá-lo começa também a receber ligações que seriam para outra pessoa: uma celebridade, um astro de cinema muito solicitado por mulheres e com uma vida bastante interessante. Essa primeira personagem passa, então, a adotar a identidade dessa celebridade.
Mais adiante o leitor conhece outra personagem, um ator muito famoso que de uma hora para outra deixa de receber ligações, deixa de ser solicitado para trabalhos e também por mulheres. Por causa disso, ele começa a duvidar do seu talento e da importância de sua carreira.
À medida que avançamos vão sendo-nos apresentadas outras personagens: um escritor brasileiro que escreve livros de auto-ajuda, vive em um enorme e luxuoso apartamento no Rio de Janeiro, sofre de depressão e encontra no suicídio a solução para seus problemas; uma mulher de quase 70 anos que ao descobrir que tem câncer decide viajar para a Suíça e se internar em uma clínica que pratica a eutanásia; uma escritora de novelas policiais que se perde na Ásia, fica com o celular descarregado sem poder entrar em contato com ninguém para pedir ajuda; um blogueiro que sonha em ser protagonista de uma novela e, por último,  um diretor de uma grande companhia telefônica que leva uma vida dupla e se entrega a autodestruição.
Com muita ironia, Kehlmann toma a história de cada uma dessas personagens e vai montando sua trama. Ele constrói uma espécie de novela em que os nove episódios se entrelaçam, mas sem criar um protagonista.

“Uma novela sem personagem principal! Compreendes? A composição, as conexões, o arco narrativo, mas sem nenhum protagonista, nenhum herói que recorra todo o livro”.

Na verdade, todas as personagens – de uma forma ou de outra -, acabam tendo algum tipo de relação entre si. Histórias que se entrelaçam, personagens que se misturam, se relacionam, que desaparecem de um relato para reaparecer em outro, mais adiante. Kehlmann monta um enredo que tem como pano de fundo a sociedade atual, a tecnologia, o mundo virtual e a globalização. Ele fala de situações e objetos da vida moderna, como por exemplo, aparelhos celulares, computadores, baterias descarregadas, telefonemas equivocados, linhas cruzadas, encontros inusitados etc. Retrata situações em que celulares e computadores, objetos tão comuns e práticos nos dias atuais, que servem (ou pelo menos deveriam servir) para facilitar a vida, podem ser capazes de gerar problemas e mal-entendidos gravíssimos.
Fama trabalha temas como suicídio, desaparecimento, traição, eutanásia, verdades, enganos e a perda da identidade.
O livro tem uma narrativa muito agradável e flui maravilhosamente bem, é uma excelente mistura de ficção e realidade. Um livro com poucas páginas mas com a incrível capacidade de prender o leitor do princípio ao fim. Eu gostei tanto que fui atrás de saber mais sobre o autor. As informações que encontrei por aí dizem que Fama, entre os livros de Kehlmann, é um dos mais fracos. Então fiquei aqui pensando, se este que não é considerado assim tão bom me agradou, já posso imaginar a delícia que será ler aquele que a crítica especializada considera o melhor. Até já coloquei aqui na minha lista outros títulos desse escritor.
Sobre o autor:
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Daniel Kehlmann nasceu em Munich, em 1975. Reside atualmente em Viena e Berlim. Sua obra recebeu vários prestigiosos prêmios, como o Prêmio de Literatura da Fundação Konrad Adenauer, o Prêmio Kleist e o Prêmio Thomas Mann. Sua novela “A medida do mundo”, traduzida para mais de quarenta línguas, é um dos maiores êxitos da recente literatura alemã. Entre outros títulos cabe destacar também “Eu e Kaminski.”Vale a pena ler. Kehlmann é ótimo!

sexta-feira, 15 de março de 2013

Dia Nacional da Poesia!


Pra mim, dia de poesia é todo dia. Mas como hoje se comemora o Dia Nacional da poesia, deixo um poema de um poeta brasileiro muito especial: Mário Quintana.

Os Poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

***

segunda-feira, 4 de março de 2013

Meu primeiro contato com a literatura chinesa.

“Às vezes, as flores colocadas para secar ao sol têm melhor aroma que as flores frescas”.

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Meu primeiro contato com a literatura chinesa foi em 2012, quando o Prêmio Nobel de Literatura saiu para Mo Yan, um escritor chinês. Até então eu nunca tinha escutado falar nada sobre esse escritor, por isso me senti um pouco desatualizada; na verdade, desatualizada não por desconhecer o ganhador de tal prêmio, mas por não conhecer absolutamente nada da literatura chinesa. Mesmo já morando na China há quase um ano, se alguém me perguntasse o nome de algum escritor daqui eu não seria capaz de citar um sequer.
No intuito de mudar esse quadro, fui pesquisar mais acerca de Mo Yan, mas acabei mesmo foi lembrando que há muito tempo comprei um livro de uma escritora com um nome que soava meio oriental. Sai remexendo tudo por aqui à procura do tal livro e me deparei com A serpente emplumada, de Xu Xiaobin.
Fiquei surpreendida não apenas pela autora ser de fato chinesa, mas por ter comprado o livro em uma época em que nem imaginava que viria morar na China. Conclusão, deixei o ganhador do Nobel de lado (por um tempo) e decidi começar o meu caminho pela literatura chinesa através da escrita de Xu Xiaobin.
Lendo alguns comentários na orelha da capa, descobri que A serpente emplumada foi comparada ao livro Cem anos de Solidão, do escritor colombiano Gabriel García Márquez. Não vou negar que esse pequeno detalhe me impulsionou a lê-lo imediatamente, pois Cem Anos de Solidão é um dos meus livros preferidos da vida. Gosto tanto dessa obra que mesmo muitos anos após a leitura ainda guardo na memória detalhes da triste história dos Buendía e da fictícia Macondo.
O certo é que fiquei muito curiosa para saber se o livro da escritora chinesa era tão parecido assim com o do colombiano, mas resulta que ao encerrar a leitura cheguei à conclusão de que além do fato de se tratar de uma épica história familiar e contar a saga de cinco gerações de mulheres no decorrer de cem anos, outras semelhanças não há. Independente disso, posso dizer que a Serpente emplumada me conquistou. O livro de Xu Xiaobin é bom o suficiente para agradar e chamar a atenção do leitor sem precisar, necessariamente, ter semelhanças com outras obras literárias conhecidas.
A autora desenvolveu muito bem o enredo, criou personagens fortes e marcantes, o que faz com que seu livro por si só se sustente. Eu gostei, me emocionei no decorrer da leitura e recomendo a todos que, como eu, gostam de histórias nas quais se descrevem sentimentos profundos e intensos.
Sinopse:
“Yu She é a protagonista. Sua experiência se tece através das vidas de sua avó, sua mãe, suas irmãs e uma sobrinha. Várias gerações de mulheres com personalidades e temperamentos muito distintos cujas vidas sofrem grandes mudanças através do tempo: desde a década de 1890, durante a última etapa da Dinastia Qing, até a década de 1990. Yu She ama seus pais, mas desde muito menina se dá conta de que seus pais não a amam. Depois de cometer dois pecados imperdoáveis, é enviada a viver em outra cidade onde logo será abandonada. Desde então sua vida se transformará em uma viagem em busca do amor. É uma menina frágil e delicada, mas ao mesmo tempo dotada de uma grande resistência. É uma menina solitária, mas sabe se defender de forma firme e desenvolta.
Quando chega a década de 1980, Yu She se envolve em uma confusão política, e se encontrará mais perto do amor que nunca. Sua última oportunidade de conseguir o que deseja se apresentará, mas em troca disso ela deverá pagar um preço muito alto. Nesta história misteriosa, Xu Xiaobin nos mostra os contrastes da vida, onde as diferenças são foscas, as recordações do passado e do presente se misturam e os desejos e a realidade se fundem sem uma linha clara de separação. É uma história maravilhosa, como um rolo de pintura chinesa, em que se plasmam imagem em relevo da História. É rica, penetrante, profunda e, sobretudo, bonita.”

Sobre a autora:

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Xu Xiaobin nasceu em 1953, em Pequim. Passou nove anos entre o campo e uma fábrica durante a Revolução Cultural, até que em 1978 ingressou na Universidade Central de Ciências Econômicas. Seus primeiros livros apareceram em 1981 e, desde então, publicou muitas obras de ficção.
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