segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Estive em Weimar - uma cidade que respira cultura!

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Centro de Weimar

Eu adoro fazer passeios culturais, sobretudo aqueles que estão relacionados com livros, escritores, bibliotecas e todo esse universo da literatura. Por isso, não sosseguei até arranjar um tempinho para conhecer Weimar, uma linda cidadezinha na Alemanha. O que me motivou a visitá-la não foi apenas a beleza de sua arquitetura Bauhaus, seus parques, seu famoso Rio Ilm, suas casinhas com flores nas janelas tão tipicamente alemãs, mas o fato de ter relação com o Romantismo, uma escola literária da qual gosto muito.Outra razão que me levou a essa cidade foi saber que lá viveram dois dos mais importantes nomes da literatura alemã: Goethe e Schiller.Não, minha gente, eu nunca li absolutamente nada de Schiller, tentei certa vez ler a Noiva de Messina(traduzido para o português, obviamente), mas achei a leitura tão difícil que abandonei pouquíssimo tempo depois de começar. De Goethe li Os Sofrimentos do Jovem Werther, algumas poesias e só. Até tenho na minha estante o Fausto, mas ando postergando a leitura por ainda não me sentir capaz de ler algo assim tão complexo… Quem sabe um dia.
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Estátuas de Schiller e Goethe  no centro da cidade

A cidadezinha simplesmente me encantou, não só por sua beleza mas pela atmosfera agradável do lugar e pela memória viva e pulsante das personalidades que ali viveram. Além dos dois escritores já citados, em Weimar viveram também Lutero, Sebastian Bach, Marlene Dietrich, Wagner, Strauss, Nietzsche, Rudolf Steiner, Shopenhauer, entre outros. A cidade é um amontoado de recordações para onde quer que nos viremos, é como se todas essas personalidades – de uma forma ou de outra – tivessem deixado suas marcas, dando assim um toque especial ao lugar.
Pra começar bem o passeio fui conhecer a Casa de Campo de Goethe, uma casinha simpática que mais parece ter saído de uma história do próprio escritor. A casinha – que está localizada dentro do belíssimo Parque de Goethe – foi onde ele escreveu seu romance mais conhecido, Os Sofrimentos do Jovem Werther, obra que deu origem ao Romantismo (estive há pouquíssimo tempo na Casa de Goethe em Frankfurt e lá consta que foi nessa casa que ele escreveu Os Sofrimentos do Jovem Werther. Desculpem as informações desencontradas 🙂 ). Só o percurso do meu hotel até lá já foi suficiente para amar o lugar, pois a área é muito linda e bem cuidada. Por dentro, a casinha permanece praticamente igual que era na época em que o poeta vivia (pelo menos assim dizem os entendidos no assunto), seu quarto, sua salinha, sua biblioteca e uma mesa de pernas bem altas onde o poeta escrevia o tempo todo de pé, acreditem! Do lado de fora a paisagem também encanta, muitas árvores, muitas flores, muito verde… tudo tranquilo, uma atmosfera assim meio bucólica.

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Casa de Campo de Goethe
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Em um lugar assim nem tinha como não ter inspiração…

Outra coisa interessante de se ver em Weimar é a Biblioteca Anna Amália. Eu não dei muita sorte porque na época em que fui estava em processo de restauração, após ter sofrido um incêndio no qual perdeu aproximadamente 50.0000 títulos, dois quintos de seu espólio. Mas quem for por lá agora não pode perder a oportunidade de visitá-la, deve ser uma maravilha adentrar um local onde estão guardadas obras importantíssimas da literatura. É também na Biblioteca Anna Amália que se encontra a primeira Bíblia traduzida por Lutero, que graça a Deus escapou do fogo.
No centro da cidade estão localizadas as duas maiores atrações: as casas principais onde viveram os poetas Goethe e Schiller. A casa de Schiller é bonita, mas não muito grande, tem uma fachada amarela bem chamativa e por dentro está decorada com réplicas no lugar dos móveis originais. Já a casa de Goethe impressiona não só pelo tamanho mas pela beleza e bom gosto. A casa era residência oficial do escritor que também exerceu os cargos de Ministro e diretor da Biblioteca Anna Amália. É mantida ainda com algumas peças originais, inclusive o quarto onde o poeta morreu, aos 82 anos, está completamente intacto. Hoje, ambas as casas funcionam como museus e estão abertas ao público diariamente.

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Casa de Schiller
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Casa de Goethe

Eu fui no verão, uma época com temperaturas agradáveis, as ruas estavam lotadas de turistas assim como de artistas, até peça teatral estava sendo encenada ao ar livre… Um charme!
O turista chega lá e não tem mais vontade de sair, acaba se entusiasmando e querendo ficar mais tempo que o previsto, que foi o meu caso.
Foi um passeio muito divertido. Eu recomendo pra quem gosta de literatura, pra quem gosta de arquitetura, pra quem gosta de História, pra quem gosta de Arte de um modo geral e pra quem gosta apenas de bater perna por aí.
Weimar é uma belezura de cidade, é tão tipicamente cultural que foi escolhida como Capital Europeia da Cultura em 1999.
*** Pessoal, quando eu digo que Weimar tem relação com o Romantismo estou me referindo ao fato de Goethe, um dos líderes do movimento romântico na Alemanha, ter vivido por muitos anos nessa cidade, razão pela qual eu fui visitá-la. Na verdade, Weimar foi o berço do Classicismo Alemão.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O Pintor de Cracóvia

“Não sou responsável do aqui exposto. O copiei diretamente da vida.”

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Ultimamente tenho tido a sorte de fazer boas leituras. Coincidência ou não, têm caído em minhas mãos livros perturbadores e tocantes. Um desses livros é o Pintor de Cracóvia, que conta a história real de Joseph Bau, um sobrevivente do Holocausto.Durante a leitura o leitor se depara com uma história de guerra, de desumanidade, de injustiça e de miséria, mas também com uma história de força, de luta, de esperança e, sobretudo, com uma história de superação.
Além de contar detalhes de sua vida nas ruas de Cracóvia e os horrores da guerra do princípio ao fim, Bau conta-nos também sua linda história de amor: um amor sem limites, um amor incondicional.
Ele fala carinhosamente sobre Rebecca, uma moça que conheceu no Campo de Concentração de Plaszow, na Polônia. Conta o que sentiu quando a viu por primeira vez, de como se apaixonou por ela e de seu casamento clandestino dentro do próprio campo de concentração. Explica-nos como burlou a segurança para consumar o matrimônio no barracão das mulheres. Fala do medo que sentiu ao ser surpreendido por policiais alemães que puniam com violência qualquer tipo de contato sentimental entre um homem e uma mulher. Narra de forma sensível suas dores, seus amores e desamores.
O que mais me tocou na história de Joseph e Rebecca foi perceber que apesar da opressão e do pavor eles não sufocaram o amor que sentiam. Seus corações estavam vivos e apaixonados, o amor que eles viveram foi muito grande, muito maior que a crueldade do nazismo, muito mais forte que  o medo… E isso foi lindo.

“Nos casamos às escondidas no Campo de Concentração de Plaszow. Celebramos nossa boda no dia de São Valentino por casualidade, porque no campo não éramos conscientes de que era o dia internacional do amor.”

Bau sobreviveu ao Holocausto porque foi trabalhar para Oskar Schindler. Rebecca, que havia sido selecionada para trabalhar na empresa de Oskar, por amor ao marido pediu que seu nome fosse substituído pelo dele. Depois que Joseph partiu, Rebecca Bau foi enviada para Auschwitz, um dos campos de concentração mais temidos. Em Auschwitz a escolheram três vezes para ingressar na câmara de gás, durante as três vezes ela conseguiu uma forma de se salvar.

 
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O mundo se calou!

Joseph Bau escreveu este poema para Rebecca pouco antes da separação:

La Despedida
Aunque nuestra vida juntos fuera muy corta
Ahora debo partir
Me voy triste y desolado
hacia un destino dispuesto
por estos tiempos desesperados
por un camino sin señalizar
Hacia un destino burlón.
todo está preparado pra darme la bienvenida.
Me voy, pero cuando las puertas se cierren tras de mí
y reine un silencio momentáneo,
cuando el tiempo erosione mis huellas,
no pienses en mi con pesar,
porque atrás dejo muy poco:
el corazón de un poeta chiflado,
unas cuantas cartas, algunas odas dedicadas a ti,
una flor marchita y los sueños que soñamos
sobre los días que pasaríamos juntos,
y planes que, ai de mi, no se hicieron realidad
Recuerda nuestra casa soñada,
la que nunca fue,
tu despacho y el mio?
Querido Dios, por que no puedes ser amable?
Pero si, como predije, las cosas cambian,
y si los recuerdos perviven en tu mente,
piensa en mí a menudo,
sin la pena que ahora nos abate
Nuestros caminos volverán a cruzarse.
Entonces… por qué lloras?
No llores más, nos estés triste…
Porque, mira, yo también resisto…
Bueno, adiós, hasta la vista!
Dame otro beso y otro abrazo
y cuidáte,
mi amor querido y sagrado.

A narrativa de Joseph tinha tudo para ser apenas mais um relato triste, como muitos já conhecidos, mas não é. Sua história de vida durante esse período negro da História tocou-me profundamente n’alma.
Além de nos emocionar com sua narrativa tão sensível, Bau também nos presenteia com vários desenhos de sua própria autoria.


Sobre o autor:
 
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Joseph Bau nasceu em Cracóvia em 1920. Em 1950 emigrou para Israel, onde abriu seu próprio estúdio. Trabalhou em muitos filmes de animação chegando a ser conhecido como o Walt Disney israelita. Morreu em 2002.
** Não sei se o livro foi publicado no Brasil. O título original é Dear Got, Did You Ever Gone Hungry?
A poesia transcrita acima está tal qual encontrei no livro, infelizmente não tenho capacidade para traduzi-la, até porque acho que um poema quando traduzido perde muito de sua beleza e lirismo.