quinta-feira, 8 de maio de 2014

Então, a culpa é da vítima?

Eu não sei se estou ficando retrógrada, mas a verdade é que ando com muitas dificuldades em compreender  o ser humano, principalmente quando vejo toda essa violência que tem assolado o mundo ultimamente... Por conta do tema Violência, comecei um bate-papo saudável com uma conhecida, mas infelizmente acabou mesmo se transformando numa discussão bastante acalorada. 
Começamos a falar sobre as informações que são vomitadas diariamente pelos meios de comunicação e rapidamente invadem as redes sociais. Eu disse que a mídia tem o incrível poder de manipular pessoas, e com a proliferação das redes sociais, as notícias - verdadeiras ou não - tomam proporções assustadoras.
As pessoas hoje em dia não se dão mais ao trabalho de verificar se uma informação é proveniente de fonte idônea e se a pessoa que a postou é confiável. Isso, infelizmente, tem causado mal-entendidos gravíssimos; tem levado pessoas (pouco esclarecidas) a cometerem crimes hediondos, como esse que aconteceu sábado passado no Guarujá.
Minha conhecida discorda totalmente de minha opinião... Ok, é um direito dela! 

Ela simplesmente acha que a dona de casa que foi assassinada a socos, pontapés e pauladas no meio da rua por mais de cem pessoas foi morta dessa forma cruel e violenta porque algo de muito errado deve ter feito. Segundo minha conhecida, como a tal mulher sofria crises de bipolaridade, provavelmente era antissocial, possuía má índole e não era bem-vista pela sociedade... Tá, mas agora sou eu que discordo!

Eu repito, devo estar ficando com o raciocínio lento demais, porque sou incapaz de entender certas opiniões e atitudes. Custa-me muitíssimo acreditar que algumas pessoas ainda possam ter a mente como tinham aquelas que viviam na Idade da Pedra. Custa-me muitíssimo aceitar que alguém possa ter a vida ceifada pelo simples fato de não agradar a todo o mundo, por não fazer parte do rebanho.

Penso que o que falta no Brasil é educação, minha gente. A massa está sendo manipulada pela mídia pelo simples fato de não saber pensar, de não saber distinguir o real da ficção, o bom do ruim. O governo não investe na educação porque é muito mais fácil enganar e controlar um povo que tem o cérebro do tamanho de uma ervilha. Não investe na educação porque é muito mais fácil comprar o voto de alguém que tem a mente estagnada
.
Muito me entristece saber que a violência e a criminalidade têm crescido e tomado conta do meu país como um câncer, sem cura. Muito me entristece ligar a TV - do outro lado do mundo - e me deparar com imagens do meu país tal qual uma arena, onde feras avançam desesperadamente em busca de sangue. Muito me entristece saber que o país que eu tanto amo já não é mais o mesmo de outrora. Muito me entristece saber que pessoas, ditas evoluídas, agem como animais selvagens.

É uma grande pena que a humanidade esteja indo por esse caminho, que tenha decidido fazer justiça com as próprias mãos, se achando no direito de decidir sobre a vida e a morte de uma pessoa. Encerro meu desabafo usando as palavras de Deusa - minha querida irmã:

Isso que está acontecendo no Brasil tem vários nomes: ignorância, intolerância e FALTA DE AMOR. Temos de ter cuidado com a infâmia, a injúria e a maledicência, porque qualquer um de nós pode ser a próxima vítima da injustiça.

Aaaah, parem o mundo que eu quero descer! :(

terça-feira, 6 de maio de 2014

O negócio é facilitar...


Ontem, li um artigo da Folha de S. Paulo sobre um projeto da escritora Patrícia Secco, que tem como objetivo reescrever alguns clássicos da literatura. Algo nada inovador se levarmos em conta que existem por aí milhares de adaptações e resumos. Porém, foi com um quê de tristeza que cheguei à conclusão de que o grande problema da falta de leitura no Brasil, problema esse que aprisiona nossos jovens há anos, continua a ser tratado com o famoso jeitinho.
A escritora alega que algumas obras da literatura brasileira, como O Alienista, de Machado de Assis, por possuírem muitas palavras desconhecidas precisam ser simplificadas. A proposta dela é trocar essas palavras "difíceis" por outras mais "fáceis". Ela diz também que a modificação que fará no texto de Machado não mudará em nada o estilo do escritor, que a ideia é apenas tornar a leitura mais  acessível aos jovens leitores.

Para mim o projeto da escritora Patrícia Secco equivale a empurrar a sujeira para debaixo do tapete. S
abemos, infelizmente, que nossos jovens não leem quase nada. Não leem porque não foram habituados a isso. E eu acredito que o que deve ser feito, antes de mais nada, é estimular o gosto pela leitura desde a mais tenra idade, oferecendo textos mais simples para que o leitor se acostume a ler de forma natural, sem achar que é um fardo. Para isso há muito material disponível, pois vários escritores têm obras voltadas para o público infantil. Monteiro Lobato é um deles.
A criança pode iniciar sua caminhada no mundo da literatura por meio dessas obras, pelo menos até tomar o gosto pela leitura. Esse gosto pode ser estimulado pelos próprios pais, em casa mesmo: um gibi, um livro do Sítio do Picapau Amarelo, enfim, há infinitas possibilidades. Então, quando a criança finalmente chegar à adolescência, já terá maturidade literária suficiente para ler e entender "O Alienista", por exemplo. Ela pode, inclusive, usar um dicionário como apoio. Por que não? É muito melhor instruir que adaptar a obra  à falta de conhecimento do leitor.

Ora, se a leitura serve também para aumentar nosso vocabulário, não vejo sentido algum em substituir a palavra "sagacidade" por "esperteza", como fez a escritora. O trabalho de Patrícia Secco, que chegará ao leitor em junho, no lugar de ajudá-lo a pensar e expandir seus horizontes, faz o caminho inverso. O leitor é levado a não usar a própria cabeça, acostumando-se a receber o conteúdo mastigado.

Finalmente, eu não vejo esse projeto como um incentivo à leitura, mas como uma forma de mascarar algo que é visível a olho nu: nossos jovens não estão habituados a ler. Lástima.

E vocês, o que pensam sobre esse assunto?

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O Livro dos Abraços - Eduardo Galeano

“Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde for. Porque todos, todos temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada.”

abrazos2O Livro dos abraços enganou-me com seu belo título que, de uma doçura sem igual, levou-me a pensar que se tratasse de uma novela romântica, meio água com açúcar. Engano mesmo, minha gente, pois o que Galeano oferece ao leitor é muito mais que isso, ele nos brinda com pequenos relatos que se encarregam de contar grandes histórias: histórias de dores, histórias de lutas, histórias de amores e de sobrevivência. Embora a maioria desses relatos esteja relacionado à política na época da ditadura no Uruguai, eles discorrem também sobre o amor, sobre a velhice, sobre o medo, sobre religião e sobre amenidades da vida.
O autor nos presenteia ainda com casos de sua própria vida na época em que ficou exilado na Espanha, mas fala também acerca de outras pessoas: famosas ou anônimas, queridas ou odiadas, admiradas ou ignoradas e, cada uma delas, à sua maneira, é relevante e pertinente para a obra.
Não é por Galeano tratar de assuntos sérios que sua escrita é seca, ao contrário, a cada pequeno relato tive a sensação de ser abraçada… abraçada por sua sensibilidade em enxergar beleza nas pequenas coisas, abraçada por sua capacidade de ver a vida a partir de diferentes ângulos, abraçada por sua escrita tão certeira, tão firme e, ao mesmo tempo, tão poética e linda.
Poderia ficar por horas mencionando os sentimentos variados que O Livro dos Abraços me proporcionou, no entanto, prefiro citar este trecho da obra que diz muito mais que qualquer coisa que eu pudesse escrever aqui:

O mundo é isso, um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.
Sobre o autor: Transcrevo um relato do livro no qual ele mesmo se apresenta:

20a13-eduardo-galeano

“Assino Galeano, que é meu sobrenome materno, desde os tempos em que comecei a escrever. Isto aconteceu quando eu tinha dezenove anos, ou talvez apenas alguns dias, porque chamar-me assim foi um modo de nascer de novo.
Antes, quando era garoto e publicava desenhos, assinava Gius, por causa da difícil pronúncia espanhola de meu sobrenome paterno (meu tataravô galês se chamava Hughes, e aos quinze anos fez-se ao mar no porto de Liverpool e chegou ao Caribe, à República Dominicana, e tempos depois ao Rio de Janeiro, e finalmente a Montevidéu. Em Montevidéu atirou ao arroio Miquelete seu anel de maçom, e nos campos de Paysandú cravou as primeiras cercas de arame farpado e fez-se dono de terras e gentes, e morreu há mais de um século, enquanto traduzia Martin Fierro para o inglês).
Ao longo dos anos escutei as mais diferentes versões sobre essa questão de meu sobrenome escolhido. A versão mais boba, que ofende a inteligência, me atribui uma intenção antiimperalista. A versão mais cômica supõe fins de conspiração ou contrabando. E a versão mais fodida me converte na ovelha vermelha da família: inventa para mim um pai inimigo e oligárquico, no lugar do pai real que tenho, que é um sujeito bacana que sempre ganhou a vida com o trabalho ou com a boa sorte que tem na loteria.
O pintor japonês Hokusai mudou de nome sessenta vezes para celebrar seus sessenta nascimentos. No Uruguai, um país formal, teria sido enjaulado como louco ou perverso simulador de identidades.”